Paixão Sobre Duas Rodas

Se antes pilotar uma moto era um símbolo de rebeldia ou praticidade, hoje representa um movimento em expansão que une gerações e redefine o estilo de vida urbano. Em um mundo dominado por tecnologias silenciosas e rotinas aceleradas, há quem escolha viver ao som de motores, engrenagens e asfalto. E essa escolha está crescendo.

De acordo com dados da Fenabrave, o Brasil registrou, só em 2024, mais de 1,5 milhão de motos vendidas, um aumento de quase 17% em relação ao ano anterior. Mas o que move essa retomada não é apenas economia ou agilidade no trânsito — é a paixão. Um sentimento que escapa a explicações lógicas, mas que pode ser visto nos olhos de quem acelera, na forma como cuidam de suas máquinas, nas comunidades que se formam, nas viagens planejadas com mais emoção do que destino.

A moto se tornou uma ponte entre o desejo de autonomia e a busca por identidade. Entre jovens, cresce o número de adeptos do estilo “new classic”, resgatando modelos inspirados nas café racers e scramblers dos anos 60 e 70, mas com tecnologia embarcada. Já entre adultos e executivos, os modelos premium e estradeiros de alta cilindrada ganham força, não como ostentação, mas como representação de uma liberdade conquistada.

Mais do que nunca, o motociclismo se insere na linguagem da moda, da música e da estética contemporânea. Em vídeos virais nas redes sociais, vemos cenas cuidadosamente espontâneas de pilotos cruzando avenidas com estilo, envoltos em jaquetas de couro vintage, capacetes retrô e acessórios que reforçam a personalidade. A moto virou também um statement visual.

Mas há também o outro lado — o das histórias profundas que unem pais e filhos, mulheres que formam coletivos femininos de motociclismo, jovens que veem na moto um refúgio mental. Segundo pesquisa da Abraciclo, 61% dos novos motociclistas declaram que “a moto ajuda a aliviar o estresse e reconectar com a própria essência”.

Eventos como o Distinguished Gentleman’s Ride ou o BMS Motorcycle, em Curitiba, mostram como o segmento tem amadurecido. Eles não celebram apenas o veículo, mas o estilo de vida, a consciência social, a elegância e a irmandade que nasce no asfalto.

Esse cenário revela um movimento sólido e em transformação: o motociclismo contemporâneo vai além do transporte ou da estética. Ele se consolida como um campo de expressão cultural, relacional e comportamental, atravessando gerações com novas leituras e significados. Com base em dados de crescimento e no fortalecimento das comunidades em torno das duas rodas, tudo indica que essa trajetória seguirá acelerando — não apenas nas ruas, mas também nas formas como nos conectamos com o mundo, com os outros e com nós mesmos.