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Entre skincare e likes

today9 de junho de 2025 2

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O que antes era uma prática privada e, muitas vezes, silenciosa, se transformou em conteúdo com alta taxa de engajamento. Banhos demorados, skincare matinal, velas aromáticas, yoga, journaling e até chás funcionais agora ocupam lugar de destaque nos feeds. No TikTok e no Instagram, vídeos com a hashtag #selfcare ultrapassam os 30 bilhões de visualizações — e o termo “rotina de autocuidado” virou sinônimo de lifestyle aspiracional.

Essa viralização do autocuidado acompanha mudanças geracionais e culturais. Pesquisas da McKinsey mostram que 71% da Geração Z e dos millennials consideram o bem-estar emocional uma prioridade maior do que sucesso profissional ou financeiro. E isso se traduz no consumo: o mercado global de produtos e serviços voltados ao bem-estar já ultrapassa US$ 1 trilhão.

No Brasil, o fenômeno também é visível. Um levantamento da Nielsen apontou que 70% dos brasileiros passaram a investir mais em autocuidado após a pandemia. Produtos de skincare cresceram 24% em vendas em 2023, e o segmento de bem-estar emocional (terapias, meditação guiada, planners e aplicativos) vem ganhando popularidade, especialmente entre mulheres jovens de grandes centros urbanos.

Mas o hype tem seu lado controverso. Especialistas apontam que o excesso de exposição pode transformar o cuidado pessoal em mais uma forma de pressão estética e performática, principalmente para mulheres. O autocuidado, que deveria ser simples, torna-se muitas vezes uma exigência: é preciso ter tempo, dinheiro e estética para postar.

Por outro lado, criadores de conteúdo também têm usado a visibilidade para democratizar o conceito de bem-estar. Há perfis que mostram rotinas reais, sem luxo, reforçando que autocuidado pode ser dizer “não”, descansar, fazer terapia, ou simplesmente não estar disponível o tempo todo. Essa vertente mais realista está ganhando espaço, abrindo discussões sobre saúde mental e ressignificando o que significa “se cuidar” longe dos filtros.

Mais do que uma tendência, o autocuidado virou um termômetro cultural. Ele revela o que essa geração valoriza: tempo de qualidade, saúde emocional e um certo desejo de reconexão consigo mesma. E, mesmo que às vezes venha em embalagem instagramável, o recado por trás dos vídeos é claro: cuidar de si deixou de ser luxo. Virou necessidade — e agora também, conteúdo.

Written by: Amplificador Ghost


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